A pandemia de Corona vírus coloca em cheque a economia global e, por consequência, a importação de produtos. A crise sanitária que se instalou em todo o mundo e não para de avançar compromete a operação de cadeias produtivas de vários setores. As bolsas de valores já refletem esse clima.
Para falarmos apenas do Brasil, no acumulado de março, a Ibovespa registrou queda de 30%, maior desvalorização mensal em 22 anos. Nos últimos 30 dias, em apenas 8 pregões, o dispositivo de circuit breaker foi acionado 3 vezes. Isso se dá quando a bolsa registra queda de 10% e as negociações são temporariamente congeladas para conter maiores perdas. Somado a disparada do câmbio, com dólar comercial sendo negociado a R$ 5,19, chegamos ao que muitos vêm chamando de “tempestade perfeita”.
No cenário global, o nível de atividade econômica na China também preocupa. Se na última epidemia de Sars, em 2003, o país era responsável por cerca de 5% do PIB mundial, hoje, a contribuição dos chineses é de 16%. Isto é, uma recessão na China, centro da epidemia, pode levar a uma recessão mundial.
Neste artigo, vamos nos aprofundar na discussão sobre os possíveis efeitos da atual crise do Covid-19 nas importações, trazendo um panorama sobre a situação do comércio exterior no país. Não deixe de conferir!
Comércio exterior China x Brasil
Como vínhamos falando, a queda de atividade econômica na China preocupa o mundo inteiro. No Brasil, onde temos os chineses como principais parceiros comerciais, tudo pode ser ainda mais grave e os primeiros efeitos já vêm sendo sentidos. Empresas da Zona Franca de Manaus, por exemplo, onde existem centenas de hubs de montagem de produtos eletrônicos, informam problemas de desabastecimento.
A Maersk, uma das maiores empresas de logística integrada do mundo, estima uma queda de 30 a 40% de navios chineses chegando ao Brasil. Esse número pode chegar a 50% ou mais com o aprofundamento da crise, comprometendo as atividades de vários setores.
A paralisação de vários setores na China também tem levado ao congestionamento de cargas em terminais portuários do país. Alguns terminais localizados em Xangai, Xingang, Tanjin e Ningbo já declararam que vão cobrar taxas de permanência para cargas refrigeradas desembarcadas fora do prazo.
Impactos do Covid-19 na importação de produtos
A dificuldade para importação de uma série de produtos tem levado a paralisação de plantas industriais no Brasil. Os casos mais notáveis são do setor de tecnologia. Fábricas da LG e Motorola estão paralisadas há semanas em razão da falta de peças. A Samsung também enfrentou problemas nesse sentido e paralisou por alguns dias as atividades em sua fábrica localizada em Campinas – SP.
No ano de 2019, mais de 80% de componentes utilizados na montagem de eletroeletrônicos no país vieram da China. Segundo nota da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), cerca de 60% das empresas associadas à entidade reportaram algum problema relacionado a transações com fornecedores chineses.
Lista de produtos com importação facilitada
Visando a contenção da pandemia de Covid-19, a Câmara de Comércio Exterior, órgão vinculado ao Ministério da Economia, zerou a taxa de importação para 61 produtos farmacêuticos e médico-hospitalares. Na lista, temos kits para testes de coronavírus, equipamentos e aparelhos médico-hospitalares, além de drogas, como cloroquina, azitromicina, hidroxicloroquina e imunoglobulina.
Houve também a suspensão, em caráter temporário (até 30 de setembro), de direitos antidumping aplicados às importações brasileiras de seringas descartáveis e de tubos de plástico, materiais utilizados para coleta de sangue. Todas essas medidas constam na Resolução nº 22, publicada no Diário Oficial da União no último dia 26 de março.
Ações da Anvisa em navios e aeronaves
Com o avanço da pandemia de Covid-19, as autoridades sanitárias do mundo todo vêm adotando medidas restritivas e de controle no tráfego de pessoas e mercadorias. No Brasil, a Anvisa estabeleceu os seguintes procedimentos na observância de casos suspeitos de contaminação:
Navio
- O navio não recebe autorização para operar e ninguém pode desembarcar;
- A Anvisa e a vigilância epidemiológica sobem a bordo para inspecionar a embarcação e avaliar o paciente;
- Caso a suspeita seja mantida, o passageiro ou tripulante é removido para um hospital de referência.
- O navio não recebe a Livre Prática (autorização para operar) e a tripulação e os passageiros ficam impedidos de desembarcar;
- Confirmado o caso, a Anvisa e a vigilância epidemiológica fazem uma avaliação sobre o procedimento com a tripulação e os passageiros que ficaram a bordo.
Em casos cuja operação do navio tiver sido iniciada, a Anvisa suspende a operação e mantem os tripulantes embarcados. Nessas situações, deve ser investigado se o tripulante suspeito já havia descido do navio para que a vigilância epidemiológica realize a investigação de possíveis contatos. O procedimento aplicável às aeronaves é similar a esse e pode ser conhecido em detalhes no site da Anvisa.
Nos próximos períodos, o impacto da crise do Covid-19 na importação de produtos deve se aprofundar. Segundo especialistas, o pico de contaminação deve acontecer no Brasil entre o final do mês de abril e início de maio, gerando consequências ainda não conhecidas para a organização de variais cadeias produtivas. O mais indicado para os importadores é acompanhar diariamente atualizações do cenário na tentativa de minorar os impactos nos negócios.
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